sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A SINAGOGA DA BAHIA 2















Talvez o mais problemático do judaísmo daquele tempo estivesse dentro da própria comunidade judaica. Uma comunidade pequena, um espaço pequeno, uma mentalidade talvez um pouco pequena também. Haviam os problemas das diferenças de situação financeira e, importante não negar, de formação também. Tem-se, às vezes, a idéia, principalmente fora da comunidade, que todo judeu possui letras, educação, uma boa formação em fim. Nem sempre é assim. Os diversos problemas que circulavam no ambiente daquele grupo tocavam a todos e bem a fundo. Mais pra frente acho que falarei dos meus percalços, mas por enquanto gostaria de rever e viver um pouco aquele espaço fabuloso que era a sinagoga da Bahia.

Estive por lá, como todos meus colegas, por toda a vida. Desde que nasci, provavelmente no colo de minha mãe ou da Nieta, até a entrada na escola, aos quatro ou cinco anos de idade, não sei exatamente. Lá permaneci como estudante até os nove e depois retornei aos onze, já como estagiário à jovem sionista. Fiz lá, naturalmente, meu Bar Mitzava, aos treze. Ao sair da Bahia tinha quinze e deixei para trás, por mais que minha estada em São Paulo tenha sido entremeada de idas à Salvador, a minha ligação com aquele espaço. Durante os anos que vivi na Bahia aquele prédio produziu simultaneamente tantas atividades que poderia enumerar uma centena entre tantos Yon Kipurim, São Joãos, casamentos, Cabalat Shabat, aulas de capoeira, danças, cantos e memórias.

Sim, memórias. Produziu, em não sei quantas gerações, uma enormidade de lembranças.

Era de fato um lugar mágico. Mágico e belíssimo. Espaços amplos, salas escondidas e misteriosas, uma sinagoga elegante e rebuscada com grandes janelas em forma de arco, uma escada em caracol em direção ao salão de festas no segundo andar, uma escada lateral em direção ao parque infantil lá de baixo (e por onde se passava pelo sonho sionista, uma pequena sala no subsolo da casa), as salas de aula, a sala da diretora, a lanchonete, a varanda do segundo andar, lugar disputado nos dias de festas, a escada lateral para cima, que poucas vezes se usava, a exceção dos dias de casamentos, a pequena área na frente da casa, seu muro e portão com grade.

É importante dizer, para não ficar uma impressão errada, que não era um imenso casarão. Os espaços eram próximos e se misturavam. Da sala principal se tinha acesso de um lado à escada caracol e do outro ao corredor das salas de aula que, passados não mais de 10 metros, dava na sinagoga. Em cada lugar uma centena de experiências que deixaram uma lembrança marcante mas que, por alguma razão, me parecem esparsas e rarefeitas.

2 comentários:

Anônimo disse...

O curioso é que você nunca me passou esse seu lado tão judaico que nos conta!

Israel Kislansky disse...

Certas coisas passam despercebidas até pra nós mesmos. Foi mais ou menos assim: achei um fio e comecei a puxar. Coisas começaram a vir. Agora não me pergunte q fio era esse.
Grande abraço, ik.